A "ditabranda" da Folha de São Paulo - Por Cristovão Fiel/pp Leonor
21/02/2009 às 14:02
Mas o que é isso? Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de "ditabranda"? Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos, sem comparar "importâncias" e estatísticas. Pelo mesmo critério do editorial da Folha, poderíamos dizer que a escravidão no Brasil foi "doce" se comparada com a de outros países, porque aqui a casa-grande estabelecia laços íntimos com a senzala - que horror!
Branda para quem, cara pálida?
Quando o próprio Departamento de Estado dos EUA e vários jornais conservadores norte-americanos consideram e reconhecem o caráter popular-democrático dos processos em curso na Venezuela, Bolívia e Equador, o jornal tucano-serrista Folha de S. Paulo ? o mesmo que emprestava veículos da sua frota para operações inconfessadas dos órgãos de repressão da ditadura civil-militar de 1964-85 ? continua insistindo com a sua cruzada contra Hugo Chávez e outros governantes sul-americanos que estão cortando os laços do Estado com as oligarquias locais.
Como se não bastasse, criou um neologismo infame para reconceituar a ditadura brasileira que golpeou Goulart em 1964. Segundo a Folha, nós experimentamos uma ?ditabranda?, e alinha motivos de ficção para por de pé esse re-conceito mole e insustentável (editorial de 17/02/2009, fac-símile parcial acima).
Para o jornal da família Frias deve ter sido mesmo uma situação branda, já que se pode imaginar as contrapartidas que o regime de repressão e arbítrio deve ter concedido ao grupo Folha, antes de 1964, editores de um obscuro diário da cidade de São Paulo.
A professora Maria Vitória Benevides escreve, em carta enviada ao jornal e publicada hoje, no Painel do Leitor:
"Mas o que é isso? Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de "ditabranda"? Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos, sem comparar 'importâncias' e estatísticas. Pelo mesmo critério do editorial da Folha, poderíamos dizer que a escravidão no Brasil foi 'doce' se comparada com a de outros países, porque aqui a casa-grande estabelecia laços íntimos com a senzala - que horror!"
O jurista Fábio Konder Comparato também escreve:
"O leitor Sérgio Pinheiro Lopes tem carradas de razão. O autor do vergonhoso editorial de 17 de fevereiro, bem como o diretor que o aprovou, deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada. Podemos brincar com tudo, menos com o respeito devido à pessoa humana."
Já a redação do jornal Folha de S. Paulo, publica hoje a agressiva nota:
"Nota da Redação - A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua ?indignação? é obviamente cínica e mentirosa."
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Comentários
SNI espalhava o terror pelo país.
marcosomag 22/02/2009 01:56
O pior da Ditadura era o terror capilarizado em toda a sociedade. O seu principal artífice era o SNI - Serviço Nacional de Informações, uma espécie de CIA que combatia qualquer tipo de oposição ao Regime através da espionagem dos cidadãos.
Os "arapongas", funcionários do SNI, eram espalhados de forma anônima nas universidades, empresas, sindicatos e até em aglomerações humanas apolíticas como jogos de futebol, festas populares e até em linhas de transporte coletivo nas cidades. Chegaram a ser mais de 500 mil informantes do Regime no auge da repressão.
Quem não viveu esta época não imagina o que a quase onipresença da Polícia política causava na população. Ninguém tinha segurança em falar sobre política até em "roda de amigos". Afinal, um dos "amigos" poderia ser um "araponga" disfarçado.
Além do mais, muita gente sabia de casos de pessoas que sumiam sem deixar vestígios nessa época. Existia até um ditado popular: "Sobre este assunto (política) eu não acho nada. Conhecí um cara que achou alguma coisa e não acharam ele até hoje!"
E agora vem a tal "Folha de São Paulo" relativizar a "Ditadura".
Cancelem sua assinaturas!
Transcrição do blog Cidadão quem?
Samukasos 22/02/2009 19:35
samukasos@bol.com.br
blig.ig.com.br/cidadao_sos
Alguns leitores têm reclamado da ?omissão? de Cidadão Quem? Sobre a polemica da ditabranda na Folha de São Paulo. Propositadamente não metemos o bedelho na história por não concordar com as opiniões inflamadas, sobretudo da esquerda e por entender que o jornal não precisa de defensores. O conceito de ditabranda não é original e um ministro do governo Lula defendeu-o amplamente em outubro de 2.008 sem o mesmo alarde feito agora contra o jornalão como o leitor pode conferir abaixo, no texto extraído do portal usina das palavras. Eu entendo que a divulgação do texto e seus desdobramentos, com ofensas a pessoas notórias por parte do jornal foi sim um equivoco e deve ser denunciado (como denunciado tem sido, a exaustão, diga-se.), mas não vejo no texto o teor ideológico que querem lhe impregnar e nem uma espécie de tentativa de deletar a lembrança dos anos de chumbo nos mais jovens, para usar as palavras de um leitor.
Ministro de Lula e a ditabranda
SÃO PAULO - O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse nesta segunda-feira, em São Paulo, que o regime militar que governou o país de 1964 a 1985 não foi uma ditadura, mas sim um ?regime de exceção?. Ditadura, segundo Lobão, houve durante o governo do presidente Getúlio Vargas. Falando a empresários em seminário sobre energia promovido pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Lobão mencionou várias vezes medidas tomadas durante o regime militar, sempre de maneira elogiosa.
? Houve avanço significativo nos governos dos militares, e ainda ouço falar de ditadura, mas não se fala de Getúlio Vargas ?
Outubro de 2.008 ? Portal usina das palavras.
Conceito político ? Conformismo
Diz-se da acomodação passiva a uma situação moralmente insustentável. Um dos defeitos ou degenerescências da democracia que, segundo John Stuart Mill, pode constituir uma espécie de ditadura mole, ou como diz uma anedota, a dita branda, contra a dita dura. A única solução para se vencer esse perigo está na discussão e na experiência. A discussão leva a uma necessidade das opiniões que se opõem e pode levar a um alto nível de actividade espiritual, evitando que a mesma opinião se torne exterior ao espírito e se petrifique. O risco do conformismo leva os homens a escolherem não aquilo que preferem, mas aquilo que as pessoas da mesma posição ou da mesma fortuna têm o hábito de fazer, levando à mediocridade. Daí defender a necessidade da própria excentricidade. Segundo Seymour Martin Lipset, o conformismo é o estado da era pós-política, típica das democracias ocidentais e das sociedades industriais, onde acabaram as ideologias e a virulência das reivindicações e onde, em vez das ideologias, há as análises dos sociólogos.
Mais no blog:
www.blig.ig.com.br/cidadao_sos
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